José Saramago

Consagrado escritor português, José Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, no concelho da Golegã.

Ficcionista, cronista, poeta, autor dramático, coube-lhe a honra de ser o primeiro autor português distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, consagrando, no seu nome, o prestígio das letras portuguesas contemporâneas além-fronteiras. Atribuição tanto mais meritória quanto a sua existência encontrou sempre condições adversas à satisfação da sua sede de cultura, ao longo de um percurso biográfico pejado de obstáculos - José Saramago não pôde, por dificuldades económicas, prolongar os estudos liceais; depois de obter o curso de serralheiro mecânico, desempenhou simples funções burocráticas e conheceu, em 1975, o desemprego - que não o impediria, porém, nem de manter uma postura cívica exemplar, marcada pelo empenhamento político ativo, antes e após o regime salazarista, nem de, graças a um trabalho de autodidata, adquirir um saber literário, cultural, filosófico e histórico incomparável, nem de se tornar um dos raros escritores profissionais portugueses. Figura de primeiro plano da literatura contemporânea nacional e internacional, a sua obra encontra-se traduzida em diversas línguas, sendo objeto de vários estudos académicos. Revelou-se como poeta com a coletânea ´Os Poemas Possíveis (1966), a que se seguiria Provavelmente Alegria (1970), desenvolvendo, simultaneamente, uma longa experiência como cronista, coligida nos volumes Deste Mundo e do Outro (1971), A Bagagem do Viajante (1973), As Opiniões Que o D. L. Teve (1974) e Os Apontamentos (1976). 

Destes dois registos fez o campo de ensaio, para, com 44 anos, encetar uma amadurecida carreira de romancista, que deixaria para trás experiências ficcionais ainda não suficientemente reveladoras, como Terra de Pecado, de 1947. Manual de Pintura e de Caligrafia e Levantado do Chão são os dois primeiros títulos de uma atividade romanesca que, concebida como registo privilegiado para uma interrogação sobre a relação entre o homem e a História, entre o individual e o coletivo, entre o escritor e a sociedade, nos anos 80, conhece um sucesso fulgurante, junto do grande público e da crítica especializada. É durante esta década que publica os títulos que o celebrizaram, como Memorial do Convento (1982), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) ou A Jangada de Pedra (1986), e onde problematiza, de forma imaginativa e humorada, numa dinâmica narrativa livre (sem constrições, seja ao nível da expressão linguística, marcada, do ponto de vista formal, por uma estratégia de integração, sem marcas gráficas, do discurso dialogal das personagens e do narrador no fluxo contínuo do texto; seja ao nível da efabulação de personagens ou do tempo), as modalidades de ficcionalização do tempo histórico, quer remetido para um passado revisto a partir da atenção conferida às histórias reais ou sonhadas dos seres anónimos que construíram a História (Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis), quer concebida como crónica de um futuro virtual que, sob a sua forma alegórica, não deixa de refletir uma inquietação sobre o presente (A Jangada de Pedra). Posteriormente publicou outras obras, de entre as quais merecem menção História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1992), Ensaio sobre a Cegueira (1996), Todos os Nomes (1997) e A Caverna (1999). A bibliografia de José Saramago abrange ainda textos teatrais (Que Farei Com este Livro, A Segunda Vida de São Francisco, In Nomine Dei) e o registo diarístico encetado com a edição de Cadernos de Lanzarote. 

José Saramago é comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada desde 1985 e cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas desde 1991. Para além do prémio Nobel, foi galardoado com o Prémio Vida Literária, atribuído pela APE, em 1993, e com o Prémio Camões, em 1995. Em 1999 foi doutorado honoris causa pela Universidade de Nottingham, em Inglaterra, e em 2000 pela Universidade de Santiago, no Chile; e, em 2004, pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e pela Universidade de Charles de Gaulle-Lille III, em França.

Morreu a 18 de junho de 2010, aos 87 anos, na sua residência na localidade de Tías, em Lanzarote, nas Canárias.


RESUMO DOS LIVROS:


Caim

Neste novo romance, o vencedor do prêmio Nobel José Saramago reconta episódios bíblicos do Velho Testamento sob o ponto de vista de Caim, que, depois de assassinar seu irmão, trava um incomum acordo com deus e parte numa jornada que o levará do jardim do Éden aos mais recônditos confins da criação.

Se, em O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago nos deu sua visão do Novo Testamento, neste Caim ele se volta aos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor refinado que marcam sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha, conforme o leitor acompanha uma guerra secular, e de certo modo involuntária, entre criador e criatura. No trajeto, o leitor revisitará episódios bíblicos conhecidos, mas sob uma perspectiva inteiramente diferente.

Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogênito de Adão e Eva, num altivo jegue, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniquidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos. Tal como o diabo de O Evangelho, o deus que o leitor encontra aqui não é o habitual dos sermões: ao reinventar o Antigo Testamento, Saramago recria também seus principais protagonistas, dando a eles uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irônica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.



A Viagem do Elefante 

É um romance de 2008, que ele chama de "O Livro dos Itinerários". A Viagem do Elefante retrata a ida de um elefante até à Áustria, mandado pelo Rei D. João III, onde será o presente de casamento do arquiduque Maximiliano da Áustria.






Ensaio sobre a lucidez 

Editado em 2004. O romance faz par com Ensaio Sobre a Cegueira e Saramago não esconde sua intenção alegórica, fazendo o jogo de claro-escuro, penetra em impasses contemporâneos.












As Intermitências da Morte 

Publicado em 2005. Sua frase inicial "No dia seguinte ninguém morreu" é ponto de partida para ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência.

Fiel ao seu estilo e ainda mais sarcástico e irônico, Saramago vai além de reflexões existenciais, fazendo uma dura crítica a sociedade moderna (o país da obra é fictício) ao relatar as reações da Igreja, do Governo, do Clero, dos repórteres, dos filósofos, dos economistas, das funerárias, casas de pensão, hospitais, seguradoras, das famílias com um moribundo em casa, da máfia, etc.


O Homem Duplicado

Tertuliano Máximo Afonso é professor de História. Ao visionar um filme banal que um colega de matemática lhe recomendara descobre que um dos actores é um seu sósia. O argumento do livro é a sua demanda, e depois confronto com o actor que é seu duplicado. Uma história que se lê de um fôlego e na qual Saramago se revela mestre do suspense. Romance que nos faz lembrar um thriller onde o autor aborda questões ligadas à identidade (e a falta dela).




A caverna

A caverna (2000) disseca, através da história de pessoas comuns, o impacto destruidor da nova economia sobre as economias tradicionais e locais. Trata-se da história de uma família de oleiros que vê sua vida transformada com a chegada de um grande centro de compras à cidade.

O próprio shopping center pode ser fisicamente comparado a uma caverna, mas a história vai além dessa comparação e traça paralelos inclusive com o mito da caverna de platão e a questão dos simulacros.

Em A caverna, Saramago recobra o mito de Platão para discutir o capitalismo em uma sociedade em que as pessoas tornaram-se apenas profissões, sombras.



Todos os nomes 

Escrito em 1997, o romance conta a história de um escriturário do principal cartório de registro da cidade que resolve arranjar um hobby para distrair-se do trabalho monótono. Começa então a colecionar recortes de pessoas famosas. Quando descobre que são todas semelhantes - meras imagens - passa a buscar detalhes da vida da gente simples e desconhecida, até enredar-se em um labirinto intransitável de informações e números, sugerindo que, se a vida se resumiu a números e documentos, é preciso refazê-la.


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Ensaio sobre a cegueira 

Publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas. A obra se tornou uma das mais famosas de seu autor, juntamente com Todos os nomes, Memorial do Convento e O Evangelho segundo Jesus Cristo.

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso." José Saramago.





O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) 

Conta a história da vida de Jesus de uma maneira moderna e faz crítica a religião.

O livro conta uma história humanizada da vida de Jesus e alude a uma  eventual relação com Maria Madalena (no livro, foi com ela que Jesus "conheceu o amor da carne e nele se reconheceu homem")







Cerco de Lisboa 

A primeira história é a de um revisor de provas que tem como trabalho verificar as correcções de uma obra intitulada "História do cerco de Lisboa". Este homem é tentado a fazer uma alteração ao texto introduzindo a palavra "não" quando existe a aceitação por parte dos cruzados de ajudarem o rei português a tomar a cidade. Assim a obra ficaria adulterada, uma vez que os cruzados passam a não ajudar o rei a tomar a cidade aos muçulmanos.

A outra história é a da tomada de Lisboa aos Muçulmanos, que Saramago acabará por recontar imaginando que os cruzados não ajudavam os portugueses. Nesta segunda história, que no livro decorre em simultâneo com a primeira, a obra assume carácter de romance histórico, mostrando Saramago a sua mestria na descrição medieval do mundo islâmico e cristão.



A Jangada de Pedra 

Conta a história ficcional da separação geográfica da Península Ibérica do restante continente europeu. Esta obra, traduzida em mais de vinte línguas já foi adaptada ao cinema.

A separação geográfica é uma alusão ao que Saramago via ocorrer frente à unificação da Europa, onde os países ibéricos estavam postos de lado, navegando à deriva sem se identificarem cultural, social ou economicamente com o restante do continente.






O Ano da Morte de Ricardo Reis

Escrito em 1984, cujo protagonista é o heterônimo Ricardo Reis de Fernando Pessoa. O personagem que empresta o nome à obra retorna a Lisboa em 1936, após uma ausência de 16 anos, e aí se instala observando e testemunhando o desenrolar de um ano trágico, através do qual o leitor é levado a sentir o clima sombrio em que o fascismo se afirma na sociedade, antevendo-se um futuro negro na história de Portugal, Espanha e Europa.




Memorial do Convento

Um romance histórico conhecido internacionalmente de José Saramago. Publicado em 1982, a acção decorre no início do século XVIII, durante o reinado de D. João V e da Inquisição. Este rei absolutista gozou da enorme quantidade de ouro e de diamantes vindos do Brasil e mandou construir o magnânimo Palácio Nacional de Mafra, mais conhecido por convento, em resultado de uma promessa que fez para garantir a sucessão do trono. Através da íntima relação entre a narração fictional e a histórica, o romance critica a exploração dos pobres pelos ricos - que origina a guerra entre os indíviduos - e a corrupção pertencente à natureza humana - com especial foco à corrupção religiosa. Revela igualmente o tema do solitário que luta contra a autoridade, recorrente nas obras de Saramago.




Levantado do Chão 

Publicado em 1980, pela Editorial Caminho, e é considerado, pela generalidade dos críticos, como um dos romances fundamentais de José Saramago. O livro ganhou o Prêmio Cidade de Lisboa, em 1980, e o Prêmio Internacional Ennio Flaiano em 1982.

O livro chegou a sua oitava edição no ano de 1988.

A obra percorre uma zona do Alentejo caracterizada pelo latifúndio, desde o final do século XIX ao período pós 25 de Abril.






Terra do Pecado 

Foi o primeiro romance publicado por José Saramago, em 1947, pela Editorial Minerva, ano em que nasceu sua filha, Violante. Com a publicação de Levantado do chão, em 1980, Saramago ganha notoriedade e, na década de 1990, seu primeiro romance, que havia sido esquecido e rejeitado, volta a figurar entre suas grandes publicações do final do século passado, conquistando seu devido espaço.





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